Encontrei esta imagem numa página do facebook e, imediatamente, identifiquei-me com ela. Lembrou-me dos meus primeiros anos de prática de yoga.
Não sou daquelas pessoas que fixam datas e sabem, exactamente, quando começaram a praticar yoga, por exemplo. Eu sei que comecei, algures, nos meus dezassete anos, porque foi com essa idade que, pela primeira vez na vida, me inscrevi num ginásio e foi lá que conheci aquele que viria a ser o meu primeiro professor de yoga.
Lembro-me que fiz umas aulas, em que o yoga, para mim, não passava de exercício físico, essencialmente, alongamentos, que me custavam imenso a fazer e me levaram a pensar que, talvez, eu tivesse nascido com as vértebras fundidas umas nas outras, tal era a rigidez...
Assim comecei. A praticar uma vez por semana, depois duas...até que acabei por praticar de segunda a sábado.
As aulas que eu tinha, na altura, eram extremamente físicas. Aliás, nesses primeiros três anos, aproximadamente, ásana era tudo o que fazíamos. Só mais tarde fui apresentada à prática de pránáyáma, mantra, meditação...
No entanto, o que começou por ser uma aula de exercícios físicos diferentes dos que eu fazia no ginásio, acabou por ser muito mais. Comecei a sentir coisas como nenhuma outra actividade me tinha feito sentir. Sem saber muito bem o que me estava a acontecer, muito menos, como me estava a acontecer, mas eu estava a mudar. E a mudança, era cá dentro.
Esse meu professor, dava aulas em casa, a um máximo de três pessoas de cada vez. Por isso, eu praticava com uma amiga. Eramos só as duas. Tornamo-nos muito próximas nessa altura. Estavamos ambas a mudar, começavamos a ver as coisas de maneira diferente. O que antes fazia sentido, aos poucos, ía deixando de fazer.
Não sabíamos muito bem o que estava a acontecer. Ainda hoje, é difícil de explicar este processo de mudança interior, que o yoga tráz à nossa vida. Só sabíamos que estávamos diferentes. Víamos a vida de forma diferente. Pensávamos, sentíamos e agiamos de forma diferente. E isso aproximou-nos muito. Não era fácil partilhar a nossa experiência com a maioria das pessoas. Há vinte anos atrás, não havia tanta gente a praticar yoga. A maioria das vezes que falava nesse assunto com alguém, ainda era olhada de forma esquisita, como quem diz: "yoga, o que é isso?". Havia os que pensavam que era uma seita, ou uma coisa esquisita para gente esquisita, que gostava de estar sentada no chão, de olhos fechados e a fazer sons estranhos. Referiam-se, claro, ao mantra Om.
Não conhecíamos outros praticantes. E acabamos por ser o apoio uma da outra.
Como sempre, já me desviei do assunto...
As nossas aulas, por vezes, tinham hora para começar, mas não tinham para acabar. O nosso professor investiu muito em nós, acreditou em nós e disse que nos queria dar formação. Não tinhamos começado a praticar yoga com esse objectivo. Mas gostamos do desafio.
Ele era exigente. Muito exigente! Agradeço-lhe por isso. Posso dizer que, as minhas bases do yoga, os primeiros alicerces, foram construídos, de forma bem firme, com a ajuda dele.
Eramos levadas ao extremo. Eramos obrigadas a enfrentar e ultrapassar os nossos limites. E quando, em certos exercícios, com permanências que pareciam nunca mais acabar, nos passava pela cabeça desistir e descansar, ouvíamos: "se vocês param agora, nunca mais vos ensino yoga". E, como num passe de magia, ficavamos logo cheias de força outra vez!
A verdade é que, através do corpo, fui-me apercebendo que existia em mim uma força imensa. E que eu só precisava tomar consciência e aprender a chegar a ela.
Foi-se tornando óbvio, também, que essa força não era "física". A força do corpo, rapidamente se esgotava com a exigência das práticas. Era algo maior. Mais subtil, mas muito mais forte!
Quando as aulas acabavam, nós saímos vermelhas como uns tomates, cabelos desalinhados, todas suadas, mas de cabeça e peito bem erguidos, com uma incrível sensação de força. Naqueles momentos, sentíamos que não havia nada que não conseguíssemos fazer na nossa vida.
Tudo isto começou pelo corpo, a porta de entrada para uma outra realidade...
Descobri um outro "eu", para além do "eu" que tinha conhecido até então. Comecei a ver-me com outros olhos. Com os meus olhos! Comecei a ver-me como eu era, não como os outros me tinham convencido que eu era. E como poderia a vida continuar a ser a mesma?
E, como estes são momentos de partilha, partilho a música ao som da qual escrevi!