segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Mais não significa melhor

 Hoje escolhi um dos meus ásanas favoritos: Paschimottánásana. Os seus principais benefícios, são:
- massaja e descansa o coração
- tonifica e massaja os órgãos abdominais
- acalma o cérebro
- aumenta a vitalidade,
- etc.

Ao escrever sobre este ásana, lembrei-me da maneira como muitos a executam e tive o seguinte pensamento: "mais nem sempre significa melhor", em tudo na vida. Mas porque me lembrei disto ao pensar no paschimottánásana?

O ego prega-nos muitas partidas, sendo a principal delas, identificarmo-nos com o corpo, com a imagem que temos. Será por isso que os ásanas, dentro do yoga, passaram a ser uma "ginástica com cheiro a incenso", em vez de ser uma técnica que usa o corpo como veículo de transcendência para a nossa realidade mais profunda?

Bem, como professora de yoga, consigo ver a diferença na atitude das pessoas quando praticam os ásanas. Quando estão sentadas, fazendo pránáyáma, ou meditação, por exemplo, estão de olhos fechadas, muito tranquilas (às vezes, talvez só na aparência...), respiração controlada, etc. O foco de atenção está voltado para dentro, que é onde deve estar. Começam os ásanas, tudo muda. A maioria não consegue manter o mesmo nível de introspeção, a mesma atitude de "testemunha" do momento. Trocam a postura interior, pela postura exterior.

É natural que, quando os alunos têm pouca prática, fiquem mais presos aos detalhes técnicos das posições. É muita informação nova. Perceber o alinhamento correcto, tomar consciência do corpo, ao mesmo tempo que se mantém uma respiração também consciente, controlada, etc, é um grande desafio no início. Por isso, no meio de todas as dificuldades (sejam as pernas a tremer, falta de equilíbrio, etc, etc), manter a atitude de testemunha do momento, por vezes, pode ser difícil.

Praticar ásana é um processo, do denso, para o mais subtil. Primeiro, há que ganhar consciência do corpo, aprender a alinhá-lo correctamente, ganhar algum à vontade com as posições, aprendendo a executá-las correctamente. Depois, quando já não é necessária tanta atenção aos pormenores técnicos de execução, fica mais fácil perceber a respiração, mantê-la controlada e coordenada com os movimentos, torná-la na prioridade da prática. E assim, vamos andando, até que os ásanas passam a ser mais que posturas, feitas apenas com o corpo físico e passam a ser estados de consciência.

No entanto, o ego atrapalha e intromete-se muito neste processo. Dentro do yoga, os ásanas são, na minha opinião, os exercícios que mais armadilhas apresentam, no sentido de nos desviarmos da atitude correcta e onde muitos se esquecem da essência da prática de yoga.

Não se iludam com as aparências... Ser um bom praticante de ásana, não significa ser um bom praticante de yoga. Yoga não se resume a ásana. Ásana não é acrobacia. Do mesmo modo, um bom praticante de ásana não é, necessariamente, aquele que faz do corpo o que quer. Já tive, ao longo dos anos, vários alunos que tinham um fantástico trabalho corporal, mas que nunca foram bons praticantes de yoga, na minha opinião, porque nunca perceberam a essência do trabalho. Para eles, tudo se resumia a "mais é melhor". Mais acrobacia, claro. A única coisa que estava a ser trabalhada, nesses casos, era a vaidade. A prática estava a alimentar cada vez mais o ego. Infelizmemnte, não é raro ver isso acontecer.

O que faz com que os ásanas sejam mais que ginástica indiana, é a atitude interior. Essa é a essência da prática. Esquecerem-se disso, é esquecerem-se do principal. 

Esta imagem é repetida, mas achei que encaixava aqui, que nem uma luva! 

E enquanto escrevia, tinha estes amigos a cantarem para mim. As minhas vozes preferidas!

http://youtu.be/D-ePw7SqBZ8



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