quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O QUE É O YOGA - Texto de Filipa Mora

Desafiei a minha amiga Filipa Mora para que escrevesse um textinho, sobre o que o yoga significa para ela. Adorei o resultado.

O que é o YOGA?

Expressar por escrito o significado de YOGA no meu percurso é por si só um desafio.

Tal como o Yoga o é para mim. Um desafio, perante mim própria, o meu ego e perante o mundo e os outros.            

No início foi a respiração. Tentar iniciar um ciclo respiratório pelo abdómen não era propriamente novidade, dada a minha formação profissional e necessidade de o fazer para colocar a voz e fazer locução. O desafio era mesmo conseguir aliar tudo isso aos movimentos de forma “correcta”. Lembro-me de até tonturas ter nos primeiros adho-mukha que fiz…e coordenar tudo? Bolas, que trabalheira, que confusão…Então o yoga não era concentrar para abstrair? E conseguir fazê-lo? Nos primeiros tempos era tão difícil conseguir dedicar a atenção a tudo, da mesma forma que era difícil não pensar no que ia fazer para o jantar a seguir, no dia que tinha tido e nos pormenores das coisas que tinham acontecido e, enfim, vinham os pensamentos mais idiotas à mente. Vá, confessem, quem é que nunca pensou no jantar, na conversa com o amigo, na coisa pendente que tinha de fazer, na lista de compras esquecida na mesa da cozinha, enfim, uma série de coisas “importantíssimas”, na altura, logo naquele momento em que estamos em cima do tapete e em que “bastava” a concentração na respiração, alinhamento/postura e no mergulho por dentro que é uma prática de asana

Se aquelas primeiras aulas de yoga tivessem um cartoon, seria uma implosão de pensamentos e de coisas a que queria estar atenta. A melhor metáfora que me ocorre das primeiras aulas de yoga é como quando estamos a aprender a conduzir. Até que determinadas coisas entrem em modo “piloto automático”, ui, que confusão que era! O alinhamento, a respiração, a coordenação da respiração com movimentos… e atrever-me e desafiar-me a fazer a aula toda sem me frustrar, ui! As primeiras aulas de yoga foram isso mesmo: aprender a lidar e gerir a frustração perante mim própria, nesse mergulho para dentro que representava aquela hora de prática.

Sentar-me com as costinhas “direitas” e respirar. Parece fácil, não? Humhum, pois. Até podia ser se todas as rotinas que estão embrenhadas em nós não nos conduzissem na direcção contrária. Passamos grande parte do dia, ou ao PC, tortos, ou de pé e com a bacia desencaixada, ou enquanto andamos, sempre com a cervical inclinada para o telemóvel, ao qual não damos descanso. Chegar a uma aula de yoga depois de um dia de 8/9h de trabalho e com as preocupações diárias que a rotina assim “exige”, nem sempre é “fácil”. Quando a aula termina, é uma delícia e invade-nos aquele pensamento sempre “ainda bem que vim!”, mas sair do trabalho, atravessar a confusão do trânsito de final do dia (pensar no trânsito ainda pós-laboral que se irá apanhar depois da aula!), chegar lá e começá-la, nem sempre é a coisa mais sedutora do mundo… por mais que amemos e nos dediquemos à nossa prática, por mais que nos esforcemos e mesmo em alturas em que temos perfeita noção que se não formos àquela aula, dificilmente iremos compensar a prática em casa. Ufa, que correria. (Fiquei cansada só de escrever estas últimas linhas, eheh...) Ora bem, para nós que andamos aqui no lufa-lufa da cidade e ainda conseguimos ir a uma aulinha às 19h00, só sentar no tapete uns minutos para aquietar é um desafio gigante. A cabeça não pára, é assim que a habituámos há muito tempo. Não há botões mágicos, nada. Só mesmo a nossa concentração, essa sim, consegue coisas e efeitos mágicos. É como tudo na vida, uns dias melhor, outros pior. Portanto, atrevo-me a dizer que por mais anos que passem e se ganhe espaço, se melhorem posturas, flexibilidade, etc, aquilo que a minha caminhada me tem mostrado é que é TUDO impermanente, tal como a forma como olhamos para o mundo, para o yoga e como praticamos, claro.

No meu trilho pessoal, já tive alturas em que praticava asana duas vezes por dia e agora que olho para esses tempos, reconheço que fazia tudo menos yoga. Fazia posturas e mexia o corpo, é certo, mas a minha cabeça não estava alinhada com o coração, mas sim com o ego. Estava numa boa condição física (como nunca pensei que o yoga permitisse!), tinha bastante tempo livre e a prática de asana matinal e ao fim do dia tornou-se, praticamente, uma obrigação. Mas…ficava com um sentimento de culpa estranho, caso não praticasse. Ora bem, isso não será violentar-me? Não se confunda disciplina com inflexibilidade e intolerância. Lá está, o limbo entre o equilíbrio e desequilíbrio é aquele ponto que não se vê, quase, mas que existe. Um bocadinho mais para o lado e caímos, daí a dificuldade em mantermo-nos no meio. Se fosse fácil, não precisávamos de passar a vida toda a aprendê-lo. Ainda que, também, por vezes, seja necessário ir aos extremos para se descobrir o que não se quer e ir algures ali até ao meio. 

Yoga para mim é consciência, é ter a humildade de olharmos para dentro, mas aquele dentro em que cumprimentamos o “ego” -reconhecemo-lo mas não o alimentamos nem focamos a atenção unicamente nele – e tomamos consciência de nós e dos outros. De nós com os outros e com o mundo em geral. Yoga é vestirmos o papel de observador a toda a hora, mas sem que isso represente uma obrigação, é algo que se vai tornando quase que inconsciente, por mais paradoxo que possa soar. É uma consciência constante e permamente nesta impermanência da vida, nestas rotinas em piloto-automático, em que agimos de forma quase que desligada de tudo e de todos.

Yoga é respirar consciência, observação, humildade e a tão bela “compaixão”. E parece um paradoxo, da mesma forma que é necessário concentrarmo-nos para nos abstrairmos ou estarmos atentos a nós de tal forma para nos conseguirmos observar e tentar compreender e ter compaixão perante o próximo. Afinal, só um “desapego” e uma “acção verdadeiramente desinteressada” nos vai conduzindo a qualquer lugar melhor que este. 

A música que agora ouço enquanto escrevo é de Fink e chama-se “Truth beginse o refrão refere algo como “Layers on layers, layers on layers. The journey unravels, and the truth begins, begins, begins”. E o yoga anda de mãos dadas com a vida como se de camadas se tratasse. Se cada passo que damos é mais uma camada que acumulamos a outra e a tantas outras camadas e camadas de caminhadas e aprendizagens, em algum momento percebemos que não percebemos nada mas que a quietude é o melhor amigo das dúvidas, do receio, do apego… O olho do furacão é sempre o local onde as condições atmosféricas são mais amenas… Eis que a “verdade” aparece. A nossa verdade, o que faz sentido para nós, a forma honesta e tranquila de estar na vida, perante os desafios e as dificuldades e o sofrimento. Se nos desapegarmos dos apelos constantes a que o nosso ego reage pelos estímulos todos lá de fora, do dia-a-dia, seremos, sem dúvida, mais verdadeiros connosco próprios. 

Yoga não são só asanas (ainda que durante muito tempo tenha pensado que sim), não é sentar de pernas cruzadas, respirar e fazer “jñána mudrá”, emitir o som “Om” e desejar paz para nós, os outros e o universo. Não é perpetuar clichés nem continuar a dizer aquilo que o Yoga não é (ou não deveria, pelo menos, ser!). Podia também lançar a provocação que é só arranjar tempo para respirar e expandir, mexer o corpo, já que é o nosso veículo para essa mesma expansão e viagem e, pronto, só falta alinhá-lo com a mente. Afinal, trata-se “apenas” de unir o coração e a mente. O que fazemos para o conseguir é a caminhada da vida… E talvez partamos sem o conseguir fazer mas, pelo menos, existe a intenção (e acção!) de viver conscientemente. A descoberta do que andamos para aqui a fazer, do que é poder viver conscientes, fieis e verdadeiros connosco e com os outros. Amar de forma livre e incondicional, passar a ver a vida e a vermo-nos de outra forma. Não necessariamente de forma oposta à que vivíamos antes mas, por norma, os vários relatos e histórias que ouvimos, referem-se sempre a um “antes” e “depois” do yoga na vida das pessoas.

Há mesmo quem mude radical e repentinamente e passe a rejeitar todas as rotinas e processos desenvolvidos até à introdução ao yoga. Há variadíssimos desabafos e textos sobre as mudanças e alterações na vida de cada um, é comum referir-se a forma como se olha para a vida e isso pode implicar a alimentação, as rotinas diárias, até mesmo os amigos e companhias que sempre fizeram sentido para nós, tal como determinados padrões comportamentais. E, de repente, mergulhamos numa bolha cujo timing depende de cada um… e as mudanças se podem ser subtis e vão acontecendo tão internamente que, quando se sentem, são enormes.
Há quem não consiga abdicar de todos os hábitos de outrora, há quem os mude totalmente. Há quem se afaste do círculo de amigos habitual e passe a não conseguir gerir antigas relações, há quem deixe de fazer determinados programas, há quem aprenda a gostar de estar sozinho e há quem passe a apreciar e a aperceber-se do quão necessário é ouvir o silêncio.

Pode haver, também, uma fase em que durante a descoberta desta forma de ver o mundo - como se tudo fosse mais transparente aos nossos olhos e estivéssemos mais conscientes e sensíveis ao mundo em geral e, quase que paradoxal e simultaneamente, mais abstraídos dos impulsos desse mesmo mundo – nos julgamos mais atentos que os outros. Ora bem, lá está o ego a pregar-nos uma partida. “Ego” talvez tenha sido a palavra que mais ouvi da boca do meu primeiro e querido professor de yoga… “ego” para aqui, “ego” para acolá… e como o significado atribuído às palavras varia em função, quer das áreas de estudo, quer do contexto, eu lá me questionava sobre algumas coisas que a Psicologia me dizia… Não há problema em ter ego, aliás, temos de o ter, desde que não o deixemos conduzir-nos por esse mundo fora. Senão, a visão que temos sobre o mundo será sempre de dualidade, de separação: de nós e dos outros. E o que o Yoga me tem ensinado, enquanto forma de viver, é exactamente o oposto. É união. Sem querer cair em redundâncias, talvez tentar explicar o que é Yoga parta mim seja mais fácil do que julguei…(como se a simplicidade não trouxesse consigo toda a complexidade do processo até lá…). Se escrevo estas coisas (num registo bem oral, diga-se de passagem), talvez seja porque me revejo plenamente nestes processos todos. 

Enquando continuo a escrever, continuo a ouvir Fink, desta vez, uma música em que ele colabora com Bonobo (“If You Stayed Over”) e que tem uma passagem: “Breathe in the future, breathe out the past”, curioso como esta metáfora poderia ser utilizada, se o passado representasse as preocupações e lições aprendidas e o futuro, apenas as coisas boas, as expectativas, a esperança. Mas daqui podemos sempre saltitar para outra questão: e por que não inspirar e expirar o presente, apenas? Claro que a construção do que somos é a soma de tudo o já fomos, mas não dispendemos demasiada energia a pensar no passado e a projectar o futuro? Andamos sempre aos trambolhões de expectativas e furacões de emoções… Se yoga é, também, a consciência de tudo “aqui e agora”, se não há mais nada além disso, se tudo é impermanente, então que estejamos a 200% no agora porque é a única certeza que temos, é de estarmos aqui. 

Consciência, liberdade, verdade, permanência, evolução, caminhada, luz …são palavras que associo ao Yoga. Felicidade e consciência. E a (tão tramada por tão difícil que é, por vezes!) compaixão que vem com a aceitação.

Yoga é respirar contemplação, abraçar o sol da consciência e viver de forma mais livre, tolerante, flexível e feliz. Primeiro connosco próprios, numa lógica do desapego e sem dar grandes ouvidos aos pedidos do ego e, depois, com os outros e o universo em geral. E tudo vem por acréscimo…pensar em várias opções e tentar ver o mundo de outra perspectiva. Não é só quando estamos no tapete, numa invertida, que vemos o mundo ao contrário. É preciso fazê-lo sempre que os desafios destes novos ritmos nos preguem sustos. 

Yoga é arranjar espaço dentro (e de dentro para fora) de nós. Expandir a caixa toráxica, a capacidade respiratória, a flexibilidade, a força, etc, claro…

E expandir, acima de tudo, a consciência… e o coração.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Pode o yoga provocar lesões?

O fogo é bom ou é mau? O fogo é fogo, nem bom, nem mau, depende do uso que lhe dermos. Quando serve para nos aquecer em casa, por exemplo, é bom, mas quando devora florestas, é mau. O mesmo acontece com o yoga (neste caso, refiro-me, essencialmente, à parte física do yoga). Tem um imenso potencial para nos fazer bem, mas pode prejudicar quando não praticado da maneira correcta.

Conheci uma senhora há uns anos atrás, que achava que o yoga era muito perigoso e tinha medo de experimentar, porque a cunhada tinha-se lesionado gravemente numa aula, a ponto de necessitar fazer uma cirurgia. O ano passado cruzei-me com uma amiga, que dá aulas de yoga, com quem já não estava há bastante tempo e que me disse ter uma hérnia na cervical, devido a demasiada prática de invertida sobre a cabeça.

Felizmente, estes casos não representam a maioria dos praticantes, mas que as lesões no yoga podem acontecer, claro que podem.

No primeiro caso que mencionei acima, o erro foi do professor. Quando, numa posição de abertuta pélvica, a aluna disse que não conseguia ir mais além, ele forçou. Não respeitou a aluna. No segundo caso, o erro foi da praticante, que exagerou na prática e não se respeitou a si própria.

Para poder praticar em segurança, há que levar em conta algumas questões:

- Se é verdade que o yoga pode ajudar a atenuar algumas lesões, também é verdade que pode piorá-las. Se tem alguma lesão, avise o seu professor, para que ele possa indicar-lhe o que pode ou não fazer.

- O seu corpo comunica consigo constantemente. Aprenda a ouvi-lo e respeite os seus sinais. Respiração descontrolada, coração acelerado e dor, são alguns dos sinais que podem indicar que o seu corpo está a dizer-lhe que é hora de abrandar, ou mesmo parar. 

- No que toca à dor (ver publicação sobre "Dor na Prática de Yoga"), se sentir dores agudas, como picadas, nos músculos, ou no interior das articulações, desfaça a postura imediatamente, relaxe um pouco e tente de novo. Se a dor persistir, não insista no exercício, pelo menos naquele momento. 

- Adapte os exercícios ao seu corpo, em vez de tentar forçar o corpo para que se adapte às posturas. Existe uma forma ideal, com o respectivo alinhamento corporal, para cada ásana. No entanto, cada corpo é um corpo, com as suas próprias especificidades. Procure o alinhamento corporal ideal do seu corpo, respeite as suas características pessoais.

- O yoga não tem nada a ver com competição, nem consigo, nem com os outros. Não é nenhum concurso, para ver quem faz melhor. Por isso, nunca se compare com os seus colegas de prática. Lembre-se, a prática é em grupo, mas o percurso é individual. Não interessa se são todos acrobatas na sua turma. Feche os olhos, olhe para dentro e esqueça o que se passa à sua volta. Faça o melhor que pode e sabe. Ninguém lhe pode exigir mais.

- Apesar do seu professor ter como função estar atento aos alunos, fazer correcções, etc, compete-lhe a si responsabilizar-se pelo seu corpo. Numa turma com várias pessoas ao mesmo tempo, o seu professor não pode estar a olhar para si o tempo todo. Observe o seu corpo, esteja atento, aplique as sugestões e correcções que ele faz em cada ásana. Por exemplo, se o seu professor diz que o joelho deve estar na linha do calcanhar, observe se o seu está e, se não estiver, corrija. É bom praticar em grupo e ter um professor que o oriente, mas também é bom assimilar a aprendizagem, para poder praticar de forma segura, na sala de aula, ou quando estiver sózinho.

- Mais não é melhor. Numa flexão do tronco em pé (movimento em que o tronco dobra para a frente), o aluno que chega com as mãos ao chão, não é necessariamente melhor praticante do que aquele que não chega. Ser um bom praticante de yoga, não se mede pela destreza física. Se assim fosse, um atleta de ginástica acrobática seria um grande yogui! O "bom praticante", é aquele que está com a postura interna correcta, independentemente do grau de força, ou flexibilidade do seu corpo. E quando se está com a postura interna correcta, chegar com as mãos ao chão, ou onde quer que seja, deixa de interessar.  A forma do corpo deixa de ser a prioridade. Em cada postura, preocupe-se em alinhar correctamente o corpo, sem se preocupar até onde ele chega.

- O seu corpo não está igual todos os dias. Basta estar mais cansado, ter dormido mal, ter-se alimentado mal, etc, para que o seu corpo tenha um desempenho diferente. Esteja no "agora". Mesmo que seja uma pessoa com bastante flexibilidade, por exemplo, pode sentir o seu corpo mais rígido em determinado momento. Respeite-o. Não interessa o que é capaz de fazer habitualmente, interessa o que é capaz de fazer no momento. 

Resumindo, o nosso ego é o principal causador de lesões. É ele que nos faz cometer todos os erros na prática: dar demasiada importância à forma da posição e querer chegar lá a todo o custo, mesmo que o corpo sofra pelo caminho; é o ego que nos faz olhar para o colega do lado e entrar em modo de competição, desprezando os alertas do corpo; é o ego que acha que mais é melhor, etc.

Em cada aula, temos uma óptima oportunidade de aplicar um dos mais bonitos princípios do yoga: ahimsa, a não violência. Pratique com amor, cuide de si e do seu corpo com todo o cuidado e carinho, pois ele é forte e resistente, mas também frágil. Acima de tudo, é a sua mais importante e valiosa ferramenta. E nunca terá outra igual.


quarta-feira, 23 de setembro de 2015

O minuto da gratidão



O final das aulas, quando unimos as mãos em frente ao peito, em anjali mudrá (podem ver o artigo escrito há duas semanas sobre anjali mudrá), é o meu "minuto da gratidão".

Desenvolver o sentimento de gratidão, é das melhores práticas diárias que podemos fazer. Em vez de alimentarmos as nossas constantes lamúrias, que não resolvem nada e aumentam a nossa (já crónica) insatisfação, que tal pararmos uns instantes para agradecer? 

Se esperamos que a vida seja um mar de rosas para agradecer, nunca o vamos fazer. Se esperamos que tudo seja como desejamos e que não haja problemas, para então podermos agradecer, nunca vamos ser gratos.

A gratidão é uma escolha, assim como a felicidade. É uma atitude que escolhemos ter perante a vida, independentemente das circusntâncias. Há pessoas que, aparentemente, têm tudo para ser felizes e não o são. Outras há que têm todos os motivos para andar de mal com a vida e são gratas pelo pouco que têm, porque podiam ter ainda menos.

Escolher a gratidão, praticá-la diariamente, é uma fantástica prática de yoga. Encontrar nos nossos dias o tal "minuto da gratidão". Só o facto de nos lembrarmos e pararmos um pouco para o fazer, já é um passo em frente que trará mudanças. 

Imaginam como a "vida se sente" quando apesar do tanto que nos dá, nós tanto nos queixamos?  Somos mal agradecidos... A maioria de nós, é muito afortunada. A maioria de nós, tem aquilo que muitos outros não têm. Mas as queixas continuam... E continuarão, enquanto estivermos demasiado focados só no nosso próprio umbigo e andarmos iludidos com coisas que achamos importantes, mas que não são assim tanto. 

Se tiverem dificuldade em pensar em algo pelo qual devem agradecer, observem se estão a respirar. Respiram? Então estão vivos! Vivos! E há maior milagre que a vida? Só por isso, devemos estar profundamente agradecidos. Enquanto estamos vivos, tudo é possível.
 
Experimentem agora. Sentem-se, fechem os olhos, foquem no coração. Respirem fundo, relaxem, criem espaço dentro de vocês, para que tudo o que de bom têm dentro, se possa manifestar. Deixem que, do coração, comece a jorrar o sentimento de gratidão sincero. Observem as sensações que vão surgindo. Quanto mais verdadeiro é esse sentimento de gratidão, melhor nos sentimos. Quanto melhor nos sentimos, mais vontade temos de agradecer. E entramos numa espiral de energia que nos expande e eleva.

Seja durante as aulas, seja quando acordam, quando vão dormir, ou quando vão lavar os dentes, parem uns segundos e agradeçam. Não importa quando o fazem, importa que o façam. E não deixem que a mente tagarela racionalize o momento, questionando o que vão agradecer, ou como. Não são necessárias palavras, o sentimento é que interessa.


Sendo que atraímos o que está na nossa sintonia, quando emanamos gratidão, atraímos mais coisas pelas quais nos vamos sentir gratos. 


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Jñána Mudrá

Depois de ter escrito sobre anjali mudrá a semana passada, alguns alunos pediram-me que escrevesse algo sobre eoutro dos gestos mais usados nas aulas - jñána mudrá - o gesto do conhecimento.

Para executar este gesto, devemos unir a ponta dos dedos indicador e polegar, formando um círculo. Os restantes dedos, ficam juntos e esticados de forma desconraída. As mãos são colocadas sobre os joelhos.

Jñána mudrá é utilizado na prática de pránáyáma e meditação. Ele actua a nível energético, fechando um circuito electromagnético, impedindo a dispersão de energia. 

Por terem um efeito muito subtil, são muitas vezes esquecidos, passando para segundo plano na prática. A sua execução acaba por ser mecânica, sem qualquer atenção. Gosto de ver os mudrás como sendo os ásanas feitos com as mãos. Como tal, devem ser executados com firmeza, atitude e total consciência.

Boas práticas!

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Yoga no dia-a-dia



Criar o hábito de praticar em casa sózinhos, tem sido um desafio para muitos dos meus alunos. Compram tapetes de yoga novos, mudam a mobília para criar espaço, etc. Mas, apesar das boas intenções e esforços, não o conseguem fazer por muito tempo. 

O que custa, é mesmo criar o hábito, porque depois de criado, é fácil manter. Quando nos habituamos a praticar regularmente, já não conseguimos deixar de o fazer. Compete-me, enquanto professora de yoga, motivar os alunos para que pratiquem em casa, mas também tenho de ser realista e perceber que, de facto, os obstáculos e tentações são muitos.

Quando a agenda já não chega para anotar todos os compromissos, o que acontece com a maioria das pessoas hoje em dia, arranjar um espaço para algo mais, mesmo quando é para o seu bem, pode ser complicado. Conciliar a vida familiar e profissional já é um grande desafio. A maioria das pessoas não pára, desde que se levanta, até que chega a casa. O despertador toca, saem a correr da cama, têm de se preparar para o trabalho, muitos ainda têm de preparar as crianças, dar-lhes pequeno almoço, enfrentar o trânsito para os levar à escola e correr, para chegarem a horas ao trabalho. No trabalho, o ambiente é cada vez mais competitivo e stressante, as pessoas são "sugadas" e obrigadas a produzir e alcançar objectivos, sem grande atenção ao seu bem estar. São apenas parte de uma engrenagem que tem de funcionar e, se elas não se mexem, são substituídas, até porque o que não falta hoje em dia, são pessoas a precisar de trabalhar.

Enfim, nesta correria do dia a dia, ter um momento para parar e olhar para dentro, é ainda mais essencial. Mas é também mais difícil.

As pessoas sentem-se tão esgotadas quando saem do trabalho, que falta-lhes a força anímica para chegar a casa e fazer uma prática de yoga sózinhas. Já para não falar nas que têm famíla para cuidar. No fim do dia de trabalho, ainda têm de dar banho às crianças, preparar jantar, arrrumar, etc. Às vezes, nem tempo de qualidade têm para passar com os filhos, quanto mais pensar em fazer yoga. Quando finalmente páram, já só têm forças para se atirar para o sofá, ou para a cama.

E no dia seguinte, tudo igual...

Quem não tem tempo para parar, ou quem não consegue parar, é quem mais precisa de o fazer. Apesar das dificuldades inerentes à rotina diária, como os compomissos familares e profissionais, de que já falei antes, depois ainda há as dificuldades que nós próprios criamos, sem necessidade.

O meu objectivo é dar-vos algumas sugestões, para que possam introduzir o yoga nas vossas vidas, diariamente, sem esforço. E, devagar, devagarinho, porque não há pressa, o hábito vai sendo criado.

- Sejam menos ambiciosos. É melhor pouco, do que nada.
Por vezes, ouço alunos dizerem: "comprei um tapete de yoga lá para casa, arrrastei o sofá para ter espaço na sala e agora vou começar a praticar diariamente!". Pode até correr bem nos primeiros dias, mas assim que começam a falhar, ficam desmotivados e vem ao de cima o pensamento que sempre esteve lá no fundo: "oh, não vale a pena, não consigo, não tenho disciplina para praticar sózinho." E acabam por desisitir completamente. O sofá volta para o seu antigo lugar e o tapete passa a viver no fundo do armário. 
O meu conselho é que comecem devagar, que estabeleçam metas menos ambiciosas. Para quem não está habituado a praticar sózinho em casa, mais vale começar a tentar fazê-lo apenas uma, ou duas vezes por semana. Assim, as hipóteses de alcançarem o vosso objectivo, são maiores. E, ao conseguirem, vão sentir que são capazes, vão somar uma vitória. 

- Já que o yoga aumenta a nossa flexibilidade, não sejam rígidos na vida.
Bem, ter uma atitude flexível, é uma grande prática. Como costumo dizer, a flexibilidade não pode ser só nas pernas. No que diz respeito às práticas em casa, não sejam rígidos com a hora, ou com o(s) dia(s) em que vão praticar. Lembrem-se, nesta fase inicial, em que ainda estão a tentar criar o hábito, têm de somar pequenas vitórias. Se escolherem um horário rígido para praticar, ou um dia na semana, e não conseguirem cumprir, vão sentir-se derrotados, frustrados e vão abrir a porta para que surja o pensamento que está sempre à espreita: "oh, não vale a pena, não consigo, não tenho disciplina para praticar sózinho".
Por isso, pratiquem quando puderem. Seja de manhã, à tarde ou à noite, seja o dia da semana que for. Pratiquem quando tiverem oportunidade. O que importa é fazer.

- Não sejam adeptos do "tudo ou nada".
Há quem, quando não tem tempo para fazer uma prática de uma hora, ache que é melhor não fazer nem cinco minutos. São os adeptos do "tudo ou nada". Estão convictos de que, ou fazem uma prática com princípio meio e fim, ou é melhor não fazer nada. Não concordo. Por vezes, arranjar uma hora para fazer uma prática, pode ser difícil (pelo menos no início). Portanto, o segredo é ir introduzindo pequenos momentos de yoga ao longo do dia. O que interessa é que o yoga esteja presente. Se não dá para fazer uma prática completa, vão fazendo quando podem. Por exemplo, fazer um exercício de respiração ao acordar, fazer alguns movimentos para soltar o corpo (nem que seja sentados na cadeira do escritório!), antes de dormir fazer um pequeno relaxamento, etc. O que interessa é fazer! O mais importante é a regularidade. Desde que pratiquem, regularmente, vão sentir a diferença e vão criar o hábito. E, como tenho dito desde o início, quando o hábito está criado, não é difícil manter.

Todos os dias, ou uma vez por semana, uma hora inteira, ou pequenos apontamentos ao longo do dia, o que importa é que o yoga faça parte do vosso dia a dia. E yoga não são só as técnicas. Os exercícios fazem parte do yoga, mas o yoga não são técnicas. Viver de forma mais consciente, estarem mais atentos a vocês próprios, manterem a ligação ao vosso interior enquanto interagem com o mundo exterior, essa é a prática! E para isso, ninguém pode dizer que não tem tempo. Fazer uns minutos de respiração, meditação, ásana, relaxamento, etc, é útil, não só porque vai fazer-vos sentir melhor, mas acima de tudo, porque vai obrigar-vos a parar, a sair do "modo piloto automático", estar "aqui e agora" e olhar para dentro, estabelecer a ligação com o vosso interior. Essa é a prática.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

If Gandhi took a yoga class


A brincar, a brincar, dizem-se as verdades. Uma bela caricatura da realidade actual.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Dor na prática de yoga


Durante as aulas, uma das minhas "funções" é motivar os alunos para que se dasafiem e percebam que, muitas vezes, os limites que têm, são mais mentais, que físicos. Na prática de ásana, é muito comum ver alunos que se sentem derrotados antes mesmo de tentar executar alguma postura, ou desistirem facilmente ao menor sinal de esforço, porque se deixam levar pelo pensamento: "não consigo".

Também é minha função garantir que pratiquem em segurança. Por isso, se às vezes "insisto" para que aguentem a permanência na postura, ou para que tentem variações mais avançadas, também vou sempre relembrando que é essencial estar atento ao corpo, ouvir os seus sinais e respeitá-lo. Não é à força que conseguimos melhorar e evoluir na prática de ásana. A máxima "no pain, no gain", muito uitlizada na acividade física, não se aplica ao yoga. Na minha opinião, não se deveria aplicar a nenhuma actividade física, já que nos ensina que, sem sofrimento, não atingimos os objectivos. E não é bem assim.

Tem de haver um equilíbrio entre desistirmos ao primeiro sinal de esforço e permancermos num ásana a todo o custo, mesmo que o corpo já esteja a dar sinais de que devemos parar.

Os extremos são fáceis. O equilíbrio, é sempre mais difícil de alcançar e implica estarmos realmente presentes na prática e percebermos os sinais.

A dor é um desses sinais.

Pode-se dizer que há dois tipos de dor: uma "positiva" e uma "negativa". A positiva, nem considero que seja dor. É a sensação que temos quando estamos a alongar e sentimos os músculos a esticar. Desde que não seja levada ao extremo, desde que respeitemos os limites do nosso corpo e alonguemos da maneira certa, produz uma sensação agradável.
A negativa é a dor que não tem nada de agradável! Quando estamos a praticar e sentimos dores agudas, como picadas, nos músculos, ou no interior das articulações, nunca é bom. Pode ser um sintoma de alguma lesão, ou pode ser devido a má execução do exercício. Em qualquer dos casos, devemos desfazer a postura imediatamente, relaxar um pouco e tentar de novo. Se a dor desaparecer, tudo bem. Se a dor persistir, não devemos insistir no exercício, pelo menos naquele momento.

Praticar com a atitude correcta, é meio caminho andado para que a prática seja segura: 
- atenção focada na prática
- auto-observação constante
- respiração consciente
- mesmo que o corpo esteja em esforço, por dentro, manter a serenidade e uma atitude de "não esforço".

A verdadeira prática, é a que fazemos por dentro. Se nos lembrarmos disso, não damos tanta importância a executar a técnica a qualquer custo, como se estivéssemos numa competição. 

Devagar se vai ao longe. Quando não temos pressa para chegar onde quer que seja e nos focamos em fazer o caminho da melhor forma possível, acabamos por chegar mais depressa (onde quer que seja).

Quando não respeitamos o nosso corpo, pela pressa de atingir alguma posição, ou porque temos uma atitude competitiva em relação aos colegas, etc, damos um passo para a frente e dois para trás. O corpo vai ficar dorido, ou até mesmo lesionado, atrasando a nossa evolução. Se praticamos "devagar e sempre", respeitando os nossos limites do momento, cuidando do nosso corpo como se fosse o nosso bem mais precioso (será que não é mesmo?), não teremos problemas e estaremos no bom caminho para uma vida mais saudável.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Anjali Mudrá

Mudrá significa "selo", "senha", "chave". São usados para vários fins em rituais hindús, na dança clássica indiana e no yoga. 

São gestos com uma força muito subtil, por isso, no yoga, são muitas vezes subvalorizados nas prática. Têm um forte efeito a nível simbólico, energético e reflexológico. Ajudam a criar certos estados de consciência, são poderosos auxílios à prática da meditação, aumentam o fluxo de prana, conduzem-no e evitam a sua dispersão.


O gesto da imagem chama-se Anjali mudrá. É muito familiar, uma vez que faz parte de todas as nossas aulas. 

Anjali é um gesto de oferenda e de saudação. Na Índia, este mudrá é muitas vezes acompanhado da palavra namaste (ou namaskara), uma saudação que significa: "curvo-me perante ti", reconhecimento do divino em todas as formas de vida. 

Nas práticas de yoga, é o gesto com se inicia e/ou finaliza a aula, sendo também usado em alguns ásanas (por exemplo, no tadásana, súrya namaskar, vrkshásana, etc).

Para executar anjali mudrá, unem-se as palmas das mãos à altura do peito. 

Representa o retorno ao coração, ao centro; é a união dos opostos: lado direito e esquerdo do corpo, hemisfério direito e esquerdo do cérebro, lado feminino e masculino, positivo e negativo, sol e lua, yin e yang, etc. É muito útil quando nos queremos centrar, quando precisamos aquietar, "voltar a casa".