O fogo é bom ou é mau? O fogo é fogo, nem bom, nem mau, depende do uso que lhe dermos. Quando serve para nos aquecer em casa, por exemplo, é bom, mas quando devora florestas, é mau. O mesmo acontece com o yoga (neste caso, refiro-me, essencialmente, à parte física do yoga). Tem um imenso potencial para nos fazer bem, mas pode prejudicar quando não praticado da maneira correcta.
Conheci uma senhora há uns anos atrás, que achava que o yoga era muito perigoso e tinha medo de experimentar, porque a cunhada tinha-se lesionado gravemente numa aula, a ponto de necessitar fazer uma cirurgia. O ano passado cruzei-me com uma amiga, que dá aulas de yoga, com quem já não estava há bastante tempo e que me disse ter uma hérnia na cervical, devido a demasiada prática de invertida sobre a cabeça.
Felizmente, estes casos não representam a maioria dos praticantes, mas que as lesões no yoga podem acontecer, claro que podem.
No primeiro caso que mencionei acima, o erro foi do professor. Quando, numa posição de abertuta pélvica, a aluna disse que não conseguia ir mais além, ele forçou. Não respeitou a aluna. No segundo caso, o erro foi da praticante, que exagerou na prática e não se respeitou a si própria.
Para poder praticar em segurança, há que levar em conta algumas questões:
- Se é verdade que o yoga pode ajudar a atenuar algumas lesões, também é verdade que pode piorá-las. Se tem alguma lesão, avise o seu professor, para que ele possa indicar-lhe o que pode ou não fazer.
- O seu corpo comunica consigo constantemente. Aprenda a ouvi-lo e respeite os seus sinais. Respiração descontrolada, coração acelerado e dor, são alguns dos sinais que podem indicar que o seu corpo está a dizer-lhe que é hora de abrandar, ou mesmo parar.
- No que toca à dor (ver publicação sobre "Dor na Prática de Yoga"), se sentir dores agudas, como picadas, nos músculos, ou no
interior das articulações, desfaça a postura imediatamente, relaxe um pouco e
tente de novo. Se a dor persistir, não insista no exercício, pelo menos naquele momento.
- Adapte os exercícios ao seu corpo, em vez de tentar forçar o corpo para que se adapte às posturas. Existe uma forma ideal, com o respectivo alinhamento corporal, para cada ásana. No entanto, cada corpo é um corpo, com as suas próprias especificidades. Procure o alinhamento corporal ideal do seu corpo, respeite as suas características pessoais.
- O yoga não tem nada a ver com competição, nem consigo, nem com os outros. Não é nenhum concurso, para ver quem faz melhor. Por isso, nunca se compare com os seus colegas de prática. Lembre-se, a prática é em grupo, mas o percurso é individual. Não interessa se são todos acrobatas na sua turma. Feche os olhos, olhe para dentro e esqueça o que se passa à sua volta. Faça o melhor que pode e sabe. Ninguém lhe pode exigir mais.
- Apesar do seu professor ter como função estar atento aos alunos, fazer correcções, etc, compete-lhe a si responsabilizar-se pelo seu corpo. Numa turma com várias pessoas ao mesmo tempo, o seu professor não pode estar a olhar para si o tempo todo. Observe o seu corpo, esteja atento, aplique as sugestões e correcções que ele faz em cada ásana. Por exemplo, se o seu professor diz que o joelho deve estar na linha do calcanhar, observe se o seu está e, se não estiver, corrija. É bom praticar em grupo e ter um professor que o oriente, mas também é bom assimilar a aprendizagem, para poder praticar de forma segura, na sala de aula, ou quando estiver sózinho.
- Mais não é melhor. Numa flexão do tronco em pé (movimento em que o tronco dobra para a frente), o aluno que chega com as mãos ao chão, não é necessariamente melhor praticante do que aquele que não chega. Ser um bom praticante de yoga, não se mede pela destreza física. Se assim fosse, um atleta de ginástica acrobática seria um grande yogui! O "bom praticante", é aquele que está com a postura interna correcta, independentemente do grau de força, ou flexibilidade do seu corpo. E quando se está com a postura interna correcta, chegar com as mãos ao chão, ou onde quer que seja, deixa de interessar. A forma do corpo deixa de ser a prioridade. Em cada postura, preocupe-se em alinhar correctamente o corpo, sem se preocupar até onde ele chega.
- O seu corpo não está igual todos os dias. Basta estar mais cansado, ter dormido mal, ter-se alimentado mal, etc, para que o seu corpo tenha um desempenho diferente. Esteja no "agora". Mesmo que seja uma pessoa com bastante flexibilidade, por exemplo, pode sentir o seu corpo mais rígido em determinado momento. Respeite-o. Não interessa o que é capaz de fazer habitualmente, interessa o que é capaz de fazer no momento.
- O seu corpo não está igual todos os dias. Basta estar mais cansado, ter dormido mal, ter-se alimentado mal, etc, para que o seu corpo tenha um desempenho diferente. Esteja no "agora". Mesmo que seja uma pessoa com bastante flexibilidade, por exemplo, pode sentir o seu corpo mais rígido em determinado momento. Respeite-o. Não interessa o que é capaz de fazer habitualmente, interessa o que é capaz de fazer no momento.
Resumindo, o nosso ego é o principal causador de lesões. É ele que nos faz cometer todos os erros na prática: dar demasiada importância à forma da posição e querer chegar lá a todo o custo, mesmo que o corpo sofra pelo caminho; é o ego que nos faz olhar para o colega do lado e entrar em modo de competição, desprezando os alertas do corpo; é o ego que acha que mais é melhor, etc.
Em cada aula, temos uma óptima oportunidade de aplicar um dos mais bonitos princípios do yoga: ahimsa, a não violência. Pratique com amor, cuide de si e do seu corpo com todo o cuidado e carinho, pois ele é forte e resistente, mas também frágil. Acima de tudo, é a sua mais importante e valiosa ferramenta. E nunca terá outra igual.
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