Criar o hábito de praticar em casa sózinhos, tem sido um desafio para muitos dos meus alunos. Compram tapetes de yoga novos, mudam a mobília para criar espaço, etc. Mas, apesar das boas intenções e esforços, não o conseguem fazer por muito tempo.
O que custa, é mesmo criar o hábito, porque depois de criado, é fácil manter. Quando nos habituamos a praticar regularmente, já não conseguimos deixar de o fazer. Compete-me, enquanto professora de yoga, motivar os alunos para que pratiquem em casa, mas também tenho de ser realista e perceber que, de facto, os obstáculos e tentações são muitos.
Quando a agenda já não chega para anotar todos os compromissos, o que acontece com a maioria das pessoas hoje em dia, arranjar um espaço para algo mais, mesmo quando é para o seu bem, pode ser complicado. Conciliar a vida familiar e profissional já é um grande desafio. A maioria das pessoas não pára, desde que se levanta, até que chega a casa. O despertador toca, saem a correr da cama, têm de se preparar para o trabalho, muitos ainda têm de preparar as crianças, dar-lhes pequeno almoço, enfrentar o trânsito para os levar à escola e correr, para chegarem a horas ao trabalho. No trabalho, o ambiente é cada vez mais competitivo e stressante, as pessoas são "sugadas" e obrigadas a produzir e alcançar objectivos, sem grande atenção ao seu bem estar. São apenas parte de uma engrenagem que tem de funcionar e, se elas não se mexem, são substituídas, até porque o que não falta hoje em dia, são pessoas a precisar de trabalhar.
Enfim, nesta correria do dia a dia, ter um momento para parar e olhar para dentro, é ainda mais essencial. Mas é também mais difícil.
As pessoas sentem-se tão esgotadas quando saem do trabalho, que falta-lhes a força anímica para chegar a casa e fazer uma prática de yoga sózinhas. Já para não falar nas que têm famíla para cuidar. No fim do dia de trabalho, ainda têm de dar banho às crianças, preparar jantar, arrrumar, etc. Às vezes, nem tempo de qualidade têm para passar com os filhos, quanto mais pensar em fazer yoga. Quando finalmente páram, já só têm forças para se atirar para o sofá, ou para a cama.
E no dia seguinte, tudo igual...
Quem não tem tempo para parar, ou quem não consegue parar, é quem mais precisa de o fazer. Apesar das dificuldades inerentes à rotina diária, como os compomissos familares e profissionais, de que já falei antes, depois ainda há as dificuldades que nós próprios criamos, sem necessidade.
O meu objectivo é dar-vos algumas sugestões, para que possam introduzir o yoga nas vossas vidas, diariamente, sem esforço. E, devagar, devagarinho, porque não há pressa, o hábito vai sendo criado.
- Sejam menos ambiciosos. É melhor pouco, do que nada.
Por vezes, ouço alunos dizerem: "comprei um tapete de yoga lá para casa, arrrastei o sofá para ter espaço na sala e agora vou começar a praticar diariamente!". Pode até correr bem nos primeiros dias, mas assim que começam a falhar, ficam desmotivados e vem ao de cima o pensamento que sempre esteve lá no fundo: "oh, não vale a pena, não consigo, não tenho disciplina para praticar sózinho." E acabam por desisitir completamente. O sofá volta para o seu antigo lugar e o tapete passa a viver no fundo do armário.
O meu conselho é que comecem devagar, que estabeleçam metas menos ambiciosas. Para quem não está habituado a praticar sózinho em casa, mais vale começar a tentar fazê-lo apenas uma, ou duas vezes por semana. Assim, as hipóteses de alcançarem o vosso objectivo, são maiores. E, ao conseguirem, vão sentir que são capazes, vão somar uma vitória.
- Já que o yoga aumenta a nossa flexibilidade, não sejam rígidos na vida.
Bem, ter uma atitude flexível, é uma grande prática. Como costumo dizer, a flexibilidade não pode ser só nas pernas. No que diz respeito às práticas em casa, não sejam rígidos com a hora, ou com o(s) dia(s) em que vão praticar. Lembrem-se, nesta fase inicial, em que ainda estão a tentar criar o hábito, têm de somar pequenas vitórias. Se escolherem um horário rígido para praticar, ou um dia na semana, e não conseguirem cumprir, vão sentir-se derrotados, frustrados e vão abrir a porta para que surja o pensamento que está sempre à espreita: "oh, não vale a pena, não consigo, não tenho disciplina para praticar sózinho".
Por isso, pratiquem quando puderem. Seja de manhã, à tarde ou à noite, seja o dia da semana que for. Pratiquem quando tiverem oportunidade. O que importa é fazer.
- Não sejam adeptos do "tudo ou nada".
Há quem, quando não tem tempo para fazer uma prática de uma hora, ache que é melhor não fazer nem cinco minutos. São os adeptos do "tudo ou nada". Estão convictos de que, ou fazem uma prática com princípio meio e fim, ou é melhor não fazer nada. Não concordo. Por vezes, arranjar uma hora para fazer uma prática, pode ser difícil (pelo menos no início). Portanto, o segredo é ir introduzindo pequenos momentos de yoga ao longo do dia. O que interessa é que o yoga esteja presente. Se não dá para fazer uma prática completa, vão fazendo quando podem. Por exemplo, fazer um exercício de respiração ao acordar, fazer alguns movimentos para soltar o corpo (nem que seja sentados na cadeira do escritório!), antes de dormir fazer um pequeno relaxamento, etc. O que interessa é fazer! O mais importante é a regularidade. Desde que pratiquem, regularmente, vão sentir a diferença e vão criar o hábito. E, como tenho dito desde o início, quando o hábito está criado, não é difícil manter.
Todos os dias, ou uma vez por semana, uma hora inteira, ou pequenos apontamentos ao longo do dia, o que importa é que o yoga faça parte do vosso dia a dia. E yoga não são só as técnicas. Os exercícios fazem parte do yoga, mas o yoga não são técnicas. Viver de forma mais consciente, estarem mais atentos a vocês próprios, manterem a ligação ao vosso interior enquanto interagem com o mundo exterior, essa é a prática! E para isso, ninguém pode dizer que não tem tempo. Fazer uns minutos de respiração, meditação, ásana, relaxamento, etc, é útil, não só porque vai fazer-vos sentir melhor, mas acima de tudo, porque vai obrigar-vos a parar, a sair do "modo piloto automático", estar "aqui e agora" e olhar para dentro, estabelecer a ligação com o vosso interior. Essa é a prática.
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