quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Insatisfação crónica

 


















Hoje acordei apaixonada pelo céu. Enquanto disparava fotos, umas atrás das outras, pensava que, chamemos-lhe Deus, Mãe Natureza, ou outro nome qualquer, mas quem criou este mundo, tinha muito bom gosto! Que mistura de cores maravilhosa! 

Por vezes, andamos tão embrenhados nas nossas vidas do quotidiano, que nos esquecemos de olhar para o céu. Passamos, dias a fio, pelas mesmas ruas, sem nunca reparar nas árvores, nas flores, até mesmo nas casas. De olhos pregados no chão, vamos levando a vida. Sim, de olhos pregados no chão é como vejo a maioria das pessoas que passam por mim, todos os dias.

É da crise, dizem alguns. "A crise" já virou um mantra, repetido incessantemente. A crise serve de pretexto para todas as más disposições. A maior crise, na minha opinião, é interior... Se assim não fosse, só os pouco endinheirados (não usei a palavra "pobres" propositadamente, pois, por vezes, os endinheirados são os mais pobres...) andavam de cara fechada. Mas não é isso que acontece. 

Hoje, durante a minha corrida matinal com as patudas, passei pela frente da Universidade Católica. Parece um desfile de carros topo de gama. No meu tempo (já pareço a minha avó a falar!), entrar na faculdade era a minha "obrigação", não fazia mais que o meu dever. Hoje em dia, por entrarem na faculdade, há muitos que ganham carros. E não é um carrinho em segunda mão, para ganharem experiência na condução e poderem riscar a pintura à vontade. Não senhor! É logo um carrão, do melhor que há! Claro que isto talvez não aconteça à maioria e também não tem mal nenhum. Cada um dá o que quer e o que pode. A questão é que, apesar de termos tanto hoje em dia, vivemos insatisfeitos!

Não apreciarmos as coisas simples da vida, não percebermos as coisas que são realmente essenciais, acharmos que nunca temos o suficiente e vivermos numa constante insatisfação, é a principal "crise" das nossas vidas. Baseamos a nossa existência no "ter" e não no "ser".

Mesmo com carros topo de gama, iphones, ipads, ipods e todos os i´s que ainda hão-de inventar, a maioria continua de olhos pregados no chão, caras fechadas, passam pelas pessoas e viram a cara para o lado, incapazes de esboçar um simples sorriso. E os sorrisos ainda são grátis! 

Ontem estive com uma antiga aluna, que chegou em julho, depois de seis meses de voluntariado em Moçambique. Só ouvir as histórias desses lugares, tão distantes geográfica e culturalmente, já é enriquecedor. Senti um pouco isso, também, quando visitei a Índia. Se formos a esses lugares, sem deixarmos para trás a nossa noção do que é viver bem ou mal, do que é certo ou errado, então, provavelmente , não vamos gostar. Vamos ficar chocados com a falta de higiene e as pobres condições de vida (segundo os nossos critértios, é claro), chocados com a pobreza, etc. No entanto, se tivermos a capacidade de ir de cabeça aberta, sem julgamento, para tentarmos ver a vida através dos olhos de uma outra cultura, é extremamente gratificante e uma grande lição de vida.

Uma das coisas que essa antiga aluna me disse, foi que o olhar das pessoas, por vezes, é até difícil de aguentar, de tão honesto que é. "Eu nunca tinha visto gente sem capa", dizia ela. "Nós vivemos tão escondidos, protegemo-nos tanto. Eles têm um olhar directo, profundo, transparente". Percebo perfeitamente. São olhares que vêm da alma. Eles têm tão pouco, que a sua existência não se baseia no "ter". Já para não falar do facto de estarem e viverem, ainda, muito mais ligados à natureza, do que nós. 

"Se não podes viver como queres, vive como podes". É bem verdade. Tentemos tirar o melhor proveito do que temos, que não é assim tão pouco. Apreciemos mais o nascer-do-sol, o mar, o sorriso que conseguimos dar a uma pessoa que passa triste por nós na rua, a companhia dos amigos e todas as outras coisas, simples, mas tão importantes, que temos na nossa vida. Não sejamos ingratos para com a vida.

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