segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O poder das palavras

Quando escrevi o texto onde falava do meu medo inicial de fazer a invertida sobre a cabeça, lembrei-me de outra coisa, extremamente importante, à qual devíamos prestar mais atenção: o poder das palavras.

Uma das coisas que acontecia comigo, quando eu me preparava para mais uma tentativa na invertida, era dizer: "Mas eu não consigo!". E a cada tentativa falhada (e tive muitas), essa idéia era reforçada. Vejo isso acontecer constantemente nas aulas. Nas invertidas, ou em outros exercícios, "não consigo" é algo que os alunos dizem muito. 

As palavras são a linguagem da mente, reflectem os nossos pensamentos. Mostram aquilo em que acreditamos. Ao contrário do que parece, o mundo exterior não é algo objectivo e concreto. Vemos a realidade através da nossa mente. Logo, aquilo a que chamamos "realidade" nada mais é do que a nossa interpretação das coisas. É a nossa realidade, baseada nas nossas crenças, nos nossos pensamentos mais profundos.

Criamos a nossa realidade com os nossos pensamentos. E a realidade por nós criada, vai reforçar ainda mais os nossos pensamentos. Por exemplo, se antes de fazer a invertida, eu dizia "eu não consigo" (e era nisso que eu acreditava), essa era a realidade que eu estava a criar para mim naquele momento. Essa era a mensagem que eu estava a mandar ao meu corpo. Eu estava a programar-me para não conseguir. O resultado só podia ser um: não conseguir mesmo. E, assim, a minha crença de que eu não era capaz, ganhava força.

Infelizmente, não é só na prática de yoga que dizemos isto. Aliás, "não consigo", não é a única expressão limitadora que usamos. Estamos constantemente a fazer afirmações que são contrárias aos nosso objectivos. Focamos a atenção no que queremos evitar, em vez de nos concentrarmos no que queremos. E nem temos consciência disso! Depois, as coisas acontecem e nós dizemos: "vês, como eu tinha razão? Eu disse que eu não conseguia". Fazemos isso connosco e com os outros.

Há tempos, assisti a uma cena que reflecte bem o que quero dizer. Aconteceu no parque da cidade, enquanto eu descansava com as minhas patudas num banquinho de jardim. Estava um miúdo com a avó. Ela, sentada a ler. O miúdo, andava aos pinotes, na brincadeira, como é próprio de um rapazinho da idade dele. Estava tudo a correr muito bem, até ao momento em que o miúdo começou a tentar saltar em altura, para cima de um pequeno muro. Ele estava a sair-se bem. Mas quando a avó viu, logo gritou: "está quieto, olha que vais cair!". Bem, meu dito, meu feito. Quando a avó disse aquilo, pimba, o puto não saltou alto o suficiente para subir o muro e acabou por cair ao chão. Felizmente, o muro era pequenito e a queda só serviu para sujar as calças. Mas vejam só o poder das mentalizações! Compreendo a preocupação com o neto. Mas bastava ter dito ao pequenote para ter cuidado. Não era preciso incutir-lhe medo e dizer, cheia de força: "vais cair"!

Já alguém foi a um nutricionista, para fazer uma dieta? Por vezes, pedem aos seus pacientes que escrevam tudo o que comem durante o dia, durante alguns dias, para tomarem consciência que, mesmo quando dizem comer pouco, a maior parte das vezes, comem mais do que o que pensam. Proponho o mesmo exercício, não em relação ao que comem, mas em relação ao que dizem. Sempre que usarem uma expressão do género: "não consigo", "não posso", "não vale a pena", etc, ou quando estiverem a pensar numa situação de forma negativa, escrevam. Talvez fiquem admirados, com o número de vezes que fazem mentalizações negativas na vossa vida. 

Atenção às palavras! Elas têm força, muita força. Façam bom uso delas. Não as usem para fortalecer o que não querem, não as usem para fazer mentalizações negativas, não as usem para fofocar sobre a vida alheia, para falar mal dos outros, para se queixarem de coisas que só depende de vocês mudar... Enfim, usem a palavra de forma consciente. E, se não têm nada de bom para dizer, então, lembrem-se: "o silêncio é de ouro".




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