quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Yoga - um laboratório de experiências

Na prática de yoga, somos a cobaia, que vai passando por vários processos ao longo de uma experiência, mas somos também o cientista, que observa a experiência, de forma neutra.
Sempre vi o yoga como um laboratório, em que nos vamos testando, desafiando, observando e conhecendo. Auto-observação é um dos pilares da prática. Há que prestar atenção à execução dos exercícios, mas sem nos esquecermos de estarmos conscientes de nós próprios e de nos  observarmos, enquanto fazemos as técnicas.

A nossa mente tem por hábito "julgar" tudo aquilo que observa. Interpretar, rotular tudo como bom ou mau, "gosto" ou "não gosto", certo ou errado, etc. O objectivo é transformarmos a mente "julgadora" numa mente "observadora". Observar sem fazer qualquer juízo de valor. Isto é das coisas que mais me ouvem dizer nas aulas e vão continuar a ouvir! As coisas são o que são. A nossa interpretação é que faz com que sejam boas ou más.

Enquanto dou aula, observo-vos. E observo para além dos exercícios. É verdade que os pensamentos são a nossa propriedade mais privada e que só nós sabemos realmente o que nos vai na alma. No entanto, tudo o que sentimos tem reflexo nas nossas atitudes, que por sua vez, se reflectem nas nossas acções. Dá para perceber quando os alunos estão a praticar "inteiros", quando se entreguem à aula de corpo e alma. Dá para perceber quando estão com a cabeça longe, apesar de não saber onde a vossa cabeça está (nem vocês próprios sabem às vezes hehehe). Dá para perceber quando a tranquilidade é só aparente, quanto mais não seja, porque a respiração denuncia-vos. Dá para perceber quando as dificuldades vos motivam a fazer melhor, ou quando os desafios vos trazem frustração e desanimo. Mas não importa que eu vos veja. Importa que vocês se vejam! Isso sim!

Há alunos que evoluem mais do que outros na prática. E quando me refiro a prática, não me estou a referir apenas à execução dos exercícios. Um bom praticante de yoga não é, necessariamente, aquele que faz coisas acrobáticas com o corpo. Para mim, um bom praticante é o que entende a essência do yoga. É o que está na aula por inteiro, entrega-se e dá o melhor de si, sem se preocupar se o seu melhor é melhor que os outros. Enfim, ser um bom praticante, tem mais a ver com a atitude interior do que com qualquer outra coisa. No entanto, como consequência de terem uma melhor atitude, esses alunos acabam, muitas vezes, por serem também os que mais evoluem na execução técnica. Porque estão inteiros, porque dão o melhor de si próprios, porque transformam as dificuldades em oportunidades para crescerem e fazerem melhor. Porque não desistem de si próprios.

A prática reflecte quem somos e ajuda-nos a ser quem queremos ser. Aproveitem o yoga para trabalharem sobre a vossa atitude perante a vida. O yoga dentro da sala é uma réplica da nossa vida do quotidiano. Se na aula temos grande dificuldade em concentrar, o mais provável é que tenhamos essa mesma dificuldade em várias situações do dia-a-da. Se na aula desistimos perante as dificuldades, se ficamos frustrados, desmotivados e pensamos que não somos capazes, então o mesmo acontece na vossa vida quando estamos perante estímulos semelhantes. Se, pelo contrário, perante as dificuldades, aumenta a nossa força de vontade para conseguir, é provável que no dia-a-dia façamos o mesmo. O que somos e a forma como lidamos connosco e com as situações externas é igual, dentro ou fora da sala de prática. É a isto que eu quero que estejam atentos quando praticam!!!!!!!!!!!!! Auto-consciência é essencial...

Há tempos escrevi que quando estamos a fazer ásana, estamos a esculpir um novo corpo. E agora acrescento que quando estamos a praticar yoga, temos a possibilidade de criar um novo Ser. 
O yoga relaxa? A maior parte das vezes, sim. Mas não foi feito para isso. Descontracção e relaxamento são consequências. Ao trabalharmos o corpo de uma forma que o respeita, como o yoga faz, fortalecendo, mas também alongando bastante, diminuimos tensões musculares, rigídez e ajudamos a libertar toxinas. O resultado só poderia ser sentirmo-nos melhor.

O yoga não é para quem não gosta de mexer um dedo :) o yoga é um trabalho forte, apesar de cada um poder, e dever, dosear a intensidade da sua prática. Sempre que sentimos que a respiração está a ficar descontrolada, ou quando estamos mesmo sem força nenhuma, sem energia, então devemos abrandar o ritmo, independentemente do que os outros colegas da aula estejam a fazer. Se estamos a recuperar de algum problema de saúde, por mais ligeiro que seja, ou de alguma lesão, então devemos também praticar com moderação, sem exigir demais do nosso corpo. 


 


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